sexta-feira, 20 de março de 2009

Quem vigia os vigilantes?

Mais uma vez deixo para comentar o filme “Quem quer ser um Milionário?” numa próxima ocasião, pois está em cartaz o filme mais esperado por mim e por muitos outros fãs de HQ’s, Watchmen.

O filme é uma adaptação da obra homônima criada por Alan Moore e desenhada por David Gibbons. A história ocorre num passado alternativo, onde heróis mascarados existem realmente, alterando o rumo da sociedade e, num contexto político, Richard Nixon é eleito pela quinta vez presidente dos Estados Unidos. Os EUA estão no auge da Guerra Fria com a União Soviética e a única coisa que impede a terceira guerra mundial é a existência de um ser com poderes de deus chamado Dr. Manhattan.

Após o sucesso dos heróis, o vigilantismo é considerado ilegal, quando é aprovada em 1977 a Lei Keene e apenas dois heróis continuam legalmente na ativa, o Comediante / Edward Blake e o citado a cima Dr. Manhattan. O primeiro é assassinado no início da história, sendo o estopim da trama, com isso, o herói mascarado e ilegal Rorschach começa a investigar acreditando numa conspiração para exterminar todos os antigos heróis.

O filme inicia numa cena incrível e de impacto, o assassinato do Comediante, sendo muito violenta, mas muito bem coreografada, mostrando tudo detalhadamente ao som de “Unforgettable” de Nat King Cole, ou seja, muito f***! Depois disso, começa os créditos iniciais, que aos poucos conta a história dos primeiros heróis a apareceram, os Homens Minuto, parte incrivelmente fiel, para quem leu e para quem é fã da HQ esse inicio é brilhante sendo um prazer assistir essas cenas em câmera lenta realmente parecendo um quadro da HQ.


No desenrolar da trama, vamos conhecendo todos os personagens principais: o paranóico Rorschach, cuja máscara branca tem manchas negras que mudam de formato constantemente; o onipotente Dr. Manhattan, que possui poder sobre a matéria, controlando objetos e moldando até a si mesmo, com um presença de impacto graças ao sua pele azul brilhante (excelente trabalho dos efeitos especiais); a segunda Espectral, Laurie Júpiter, mulher do Dr. Manhattan; o frustrado segundo Coruja, Dan Dreiberg e Ozymandias, Adrien Veidt, o homem mais inteligente do mundo.

O roteiro do filme é muito fiel a HQ, fazendo mudanças sutis em algumas cenas para facilitar o desenrolar da trama, mesmo assim muitos diálogos foram transpostos totalmente dos quadrinhos para o filme. E essa tamanha fidelidade, que é o ponto positivo, também prejudica o filme, já que foi tentado abordar todos os temas da HQ, assim muitos fatos acontecem corridos demais, fazendo com que algumas cenas percam o impacto que realmente tem, como nas cenas que ocorrem em Marte.

O que deve causar maior discussão entre os fãs, com relação ao roteiro, deve ser a mudança do final da história, mas na minha opinião ficou mais realista e mais fácil de assimilar, mesmo com essa alteração a idéia por trás continua a mesma, o que enriquece o filme.

Zack Snyder fez um ótimo trabalho nessa produção que a pouco tempo atrás era considerada infilmável. As cenas nas quais são contadas a história dos personagens são incríveis (principalmente a do Dr. Manhattan), usando o recurso do flashback, do mesmo modo da HQ. As cenas de luta são um espetáculo, abusando da violência e do sangue que são apenas sugeridas no original, utilizando a câmera lenta (do mesmo modo que em “300”) e sempre acompanhada da trilha sonora empolgante.

Mas um parênteses eu tenho que abrir aqui, esse filme não é um blockbuster das férias de verão dos EUA que vocês estão acostumados, o filme não se baseia nas cenas de ação, elas apenas complementam o filme, que é repleto de diálogos e sustentado pela interpretação dos atores e pelo competente trabalho do diretor que acompanha as 2h e 43min do filme, o que pode tornar-se enfadonho para quem não está acostumado com um filme que faz as pessoas refletirem e para alguns que não leram as HQ’s.

Falando no elenco, vamos a ele. Começo com o que eu menos gostei, Matthew Goode (Ozymandias), sem a máscara ele consegue se sair bem, mas não tem o sarcasmo que o personagem exige, piora quando ele está usando o uniforme, não convence mesmo, já que Ozymandias deveria ter o corpo no alge do estado físico, além disso o uniforme com mamilos é sacanagem. Malin Akerman, como Espectral, cumpre sua função de símbolo sexual, mas nada acrecenta, principalmente comparando com os demais.


Agora, Jeffrey Dean Morgan encarnou com perfeição o personagem Comediante em todas as fazes, um personagem que enxerga o mundo como uma grande piada, tendo visto o pior lado dele, mas mesmo dando a impressão de ser cruel, consegue ainda demonstrar sentimentos de afeição. Billy Crudup, que empresta a voz ao Dr. Manhattan, dá o tom certo ao personagem que já viu muita coisa do mundo e enxerga a humanidade com certo tédio, além disso consegue se destacar nos breves momentos que aparece antes de acidentalmente se transformar no herói.


Patrick Wilson me surpreendeu como o Coruja, não só pela semelhança física, mas pelo ótimo que trabalho que realizou, encarnando um personagem frustrado que não quer admitir a saudade que tem de ser um herói (como fica bem claro na ótima cena do sonho que ele tem, transposta totalmente do quadrinho). Mas sem dúvida o que melhor encarnou o papel foi Jackie Earle Haley, o seu Rorschach é digno de aplausos de pé, ele consegue passar todos os traumas vividos pelo personagem e a moldagem da visão deste de justiça, a cena do diálogo com psicólogo é incrível.


Outro ponto que deve ser destacado na produção é a direção de arte, os cenários capturaram todo o universo criado por Alan Moore e David Gibbons, estão lá o restaurante Guga Dinner e o jornal The New Frontiesman. Além disso, a trilha sonora arrasa em vários momentos do filme: no inicio tocando “Unforgettable”; nos créditos iniciais tocando “The Times Are A-Changing” de Bob Dylan; a belíssima “The Sound of Silence”, de Simon e Garfunkel, para a cena do enterro do Comediante e ainda “All Along The Watchtower” de Jimi Hendrix. Minha única resalva é a música “Hallelujah” que, mesmo sendo usada de maneira irônica, não me pareceu apropriado, ficou destoante da cena.

Watchmen é um filme mais voltado para os fãs, mais mesmo os que não leram as HQ’s irão se interresar por todo o mundo criado por Alan Moore. Apesar das falhas é um bom filme que merece ser conferido. E assim chegamos a parte em que eu dou minha nota: pela empolgação de fã nota 10, pela adaptação nota 9 e considerando o trabalho todo como filme nota 8.

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